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A Descendência (Semente) de Abraão

A Teologia Dispensacionalista encontra até quatro significados diferentes para o termo semente de Abraão:

Dispensacionalistas têm argumentado que o conceito de “descendência de Abraão” é usado de várias maneiras diferentes no Novo Testamento. Frunchtenbaum, por exemplo, lista quatro sentidos da “semente de Abraão”. Primeiro, ele diz que pode se referir àqueles que são descendentes biológicos de Abraão. Em segundo lugar, pode se referir ao Messias, que é a semente individual singular de Abraão. Terceiro, Frunchtenbaum diz que pode se referir ao remanescente junto de Israel (Is 41.8 com Rm 9.6). Em quarto lugar, ele pode ser usado em um sentido espiritual para os crentes judeus e gentios (Gl 3.29). É nesse último sentido, o sentido espiritual, que os crentes gentios são descendência de Abraão. John Feinberg também distingue entre um sentido físico e um sentido espiritual de ser a semente de Abraão. Segundo ele, os dispensacionalistas sustentam que “nenhum sentido é mais importante do que qualquer outro, e que nenhum sentido anula o significado e implicações dos outros sentidos”. Assim, a aplicação dos títulos “filhos de Abraão” ou “semente de Abraão” não significa que os crentes Gentios são judeus ou parte do Israel Espiritual (VLACH, 2016, p. 54-55). ¹

Percebe-se que essa pluralidade de definições para o termo semente de Abraão, no dispensacionalismo, surge pelo fato de um entendimento falho sobre a descendência de Abraão. Nota-se no texto citado acima que, segundo Feinberg, o termo semente de Abraão não significa que os crentes Gentios são judeus ou Israel espirituais. Mas o quarto ponto diz que é no sentido espiritual que os gentios são descendência de Abraão. Então, algumas vezes, o termo é usado apenas para os descendentes físicos, em outras é usado para os gentios, indicando que somos descendência espiritual, ou seja, dependendo de qual situação o termo vai se enquadrar na doutrina que eles querem defender, é como o termo deve ser definido. Mas a própria Palavra de Deus é clara em definir a descendência ou a semente de Abraão e o ponto chave para isso está em Sara e Agar.

As Escrituras nos deixam claro que a descendência de Abraão são os que estão em Cristo (BÍBLIA, Gálatas, 3, 29) e os que têm a fé em Cristo (BÍBLIA, Gálatas, 3, 7-9). Segundo Jason S. DeRouchie, no primeiro capítulo do livro editado por Stephen J. Wellum e Brent E. Parker (2016, p. 8), Paulo considerava os gentios Cristãos da Nova Aliança como um cumprimento das promessas da semente (descendência) de Abraão da antiga aliança. Paulo deixa isso muito claro ao afirmar:

Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo. Mas digo isto: Que tendo sido a aliança anteriormente confirmada por Deus em Cristo, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a invalida, de forma a abolir a promessa (BÍBLIA, Gálatas, 3, 16-17).

Ou seja, a descendência de Abraão é Cristo, e ponto. Quando as promessas foram feitas para Abraão, Isaque e Jacó, elas se referiam à promessa, que é Cristo. E a lei que veio da aliança mosaica 430 anos depois não invalida essa promessa. Ou seja, a descendência física de Israel não é a descendência de Abraão, melhor dizendo, a descendência física não faz parte da promessa, pois nem todos que são de Israel são de fato israelitas, e não são os filhos da carne que são descendência, mas os da promessa, chamados em Isaque (BÍBLIA, Romanos, 9, 6-8).

As Escrituras deixam claro que a descendência de Abraão tem apenas uma definição e não quatro como afirma o dispensacionalismo, e essa definição é Cristo. Consequentemente, os que estão em Cristo são aqueles que morreram e ressuscitaram com Cristo (BÍBLIA, Gálatas, 2, 20) e agora são partes do corpo de Cristo.

A carta aos Gálatas ensina muito sobre esse tema. Nota-se que grande parte das referências bíblicas neste tópico sobre a descendência de Abraão vêm de Gálatas. O contexto da Carta de Gálatas trata sobre isso, e quando chegamos ao capítulo 4, Paulo não deixa dúvida sobre a descendência de Abraão. É neste capítulo que Paulo trata sobre servos e herdeiros de Cristo em paralelo com Sara e Agar.

 Para se entender corretamente a descendência de Abraão, é necessário, antes, entender a tipologia que existe em Sara e Agar em relação a Abraão e que Paulo explica no capítulo quatro de Gálatas.

No contexto, Sara, mulher de Abraão, era estéril, e não podia ter filhos (BÍBLIA, Gênesis, 11, 30). Deus fez uma aliança com Abraão e disse que da descendência dele sairiam muitas nações e que, com a descendência de Abraão, seria firmada uma aliança perpétua (BÍBLIA, Gênesis, 17, 4-7). Mas Abraão não tinha filhos e sua mulher não podia ter filhos. Abraão, preocupado por não ter filhos, e sendo sua esposa estéril, chegou a considerar que a descendência prometida para ele viria de seu servo Eliezer, mas Deus disse que não, que a descendência viria de alguém gerado por Abraão (BÍBLIA, Gênesis 15, 2-4). Sara, por sua falta de fé na promessa de Deus, oferece sua serva Agar a Abraão, para ele coabitar com ela e gerar um filho (BÍBLIA, Gênesis, 16, 1-4).

Disso nasceu Ismael, mas Ismael filho da escrava não estava na promessa de Deus, o plano era para ser um herdeiro que nasceria de forma miraculosa, já prefigurando Cristo, se não fosse dessa forma miraculosa já não seria por fé, mas pela carne. Então, Deus diz que não é com Ismael que ele faria aliança, e que Sara teria um filho, o filho da promessa, um milagre, porque ela era estéril, e que o nome desse filho seria Isaque e com esse é que seria a aliança eterna (BÍBLIA, Gênesis, 17, 18-21). Não são, portanto, os filhos da carne, mas os filhos da promessa que são contados como filhos, e a promessa é Cristo.

Existem muitos tipos (no sentido de tipologia) de Cristo em Isaque. Deus ordena a Abraão que tome seu único filho, Isaque, e o ofereça como sacrifício (BÍBLIA, Gênesis 22, 2). Mas como é o único filho se ele também tinha Ismael? A resposta é que só o filho da promessa contava, o único filho sendo oferecido como sacrifício. Nota-se, com isso, que o filho da promessa é que é contado como descendência e não o filho da carne. Ou seja, Cristo é o filho da promessa, que nasceu milagrosamente, é a descendência de Abraão, porque não foi dito o plural descendentes, mas o descendente, que é Cristo (BÍBLIA, Gálatas, 3, 16). 

É possível concluir, portanto, que a descendência de Abraão tem apenas uma definição e não quatro, como o dispensacionalismo afirma. Isso fica claro na passagem do livro de Mateus, quando Jesus faz um paralelo e mostra que a sua família são os que fazem a vontade do Pai e não os seus descendentes na carne (BÍBLIA, Mateus, 12, 46-50). Ou seja, ainda que Ismael tenha nascido de Abraão, o que vai ser considerado filho é Isaque.

Apesar de Deus ter usado da descendência biológica de Abraão para formar Israel, que veio da fé (Sara) através de Isaque, e não da carne (Agar), e depois por seu propósito, ter dividido o Reino de Israel para que a salvação chegasse a todas as nações da terra através de Efraim, ainda assim ele nos mostra que na Nova Aliança em Cristo, a descendência é Cristo, ou seja, os que estão em Cristo são os filhos da promessa (fé), a descendência segundo a carne não é contada (BÍBLIA, Romanos, 9, 6-8).    

Então, ainda que os Judeus de hoje, os que não creem em Cristo, sejam descendentes na carne, Deus não tem nenhuma promessa para estes, as promessas e profecias de Deus sempre foram para o verdadeiro Israel que é Cristo, as promessas sempre foram para o descendente e não para as descendências, e a descendência é Cristo (BÍBLIA, Gálatas, 3, 16) e, consequentemente, os que estão em Cristo, que são o corpo, e Cristo, a cabeça (BÍBLIA, Efésios, 5, 23).

REFERENCIAS:

  1. VLACH, Michael. Dispensacionalismo: Crenças essenciais e mitos comuns. Eusébio, CE: Editora Peregrino, 2016
  2. WELLUM, Stephen J; PARKER, Brent E. Progressive Covenantalism. Nashville, TN: B&H Academics, 2016.

* O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do site Curso Bíblico Online.

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Escrito por
Jota Silva
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1 comentário
  • Interessante que você percebe por exemplo em Isaías que os textos que se referem o servo, ora parece se referir a Israel (carne), ora parece se referir a Cristo, como se o Israel ali no texto se refira a Cristo, o judeu interpreta o texto como sendo Israel (carne) se você entende que o ‘israel’ ali é Cristo a dúvida do eunuco em atos é respondida.