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A Septuaginta (LXX) – a famosa Versão dos Setenta

Septuaginta é o nome da versão da Bíblia hebraica traduzida para o grego koiné. Essa versão foi realizada por cerca de 70 rabinos, por isso alguns se referem à Septuaginta como (LXX, ou a Versão dos Setenta). Esse trabalho foi realizado no período entre o século III a.C. e o século I a.C., em Alexandria. É a mais antiga tradução da bíblia hebraica para o grego, língua franca do Mediterrâneo oriental pelo tempo de Alexandre, o Grande. Para se ter uma ideia, a Septuaginta é muito mais antiga que o Texto Massorético que data do séc IV d.C. [outras fontes o colocam entre 600 a 900 d.C.], numa distância maior que 7 séculos!

A tradução ficou conhecida como a Versão dos Setenta (ou Septuaginta, palavra latina que significa setenta, ou ainda LXX), pois setenta [1]ou setenta e dois[2] rabinos (seis de cada uma das doze tribos) trabalharam nela e, segundo a tradição, teriam completado a tradução em setenta e dois dias[3]. A Septuaginta, desde o século I, é a versão clássica da Bíblia hebraica para os cristãos de língua grega e foi usada como base para diversas traduções da Bíblia.

 

A Septuaginta inclui alguns livros não encontrados na bíblia hebraica disponível. Muitas bíblias da Reforma Protestante seguem o cânone judaico e excluem estes livros adicionais. Entretanto, católicos romanos incluem alguns destes livros em seu cânon e as Igrejas ortodoxas usam todos os livros conforme a Septuaginta. Anglicanos, assim como a Igreja oriental, usam todos os livros exceto o Salmo 151, e a bíblia do rei Jaime em sua versão autorizada inclui estes livros adicionais em uma parte separada chamada de Apocrypha.

Os Manuscritos do Mar Morto (Qumran, 1940) e de Massada mostram que entre os antigos judeus ainda não havia uma lista bíblica fixa ou instituída, pois o cânon da Septuaginta LXX era usado entre os judeus de Israel e mesmo pelos apóstolos de Cristo ao seu tempo. Também após a morte dos apóstolos, os cristãos utilizaram-se da Septuaginta LXX continuamente em suas comunidades.

Considerações Importantes sobre a Septuaginta

Vários estudos atestam que os Apóstolos e Evangelistas usaram a Septuaginta. A Sociedade Bíblica do Brasil afirma que “pois, como se sabe muitas citações (e alusões) do Antigo Testamento no Novo Testamento procedem diretamente da clássica versão grega”[4]. E que das 350 citações que o Novo Testamento faz do Velho Testamento, pelo menos 300 provêm da versão grega.

Exemplos de trechos referentes a Septuaginta LXX podem ser encontrados no Evangelho segundo Mateus, por exemplo, onde Jesus Cristo em resposta ao diabo diz:

“Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” Mt 4, 4.

Jesus referiu-se a Deuteronômio 8:3, onde é usada “da boca do Senhor” enquanto a Septuaginta LXX traz “da boca de Deus”.

“Manuscritos Os três manuscritos mais conhecidos da Septuaginta são: o Vaticano (Codex Vaticanus), do séc. IV; o Alexandrino (Codex Alexandrinus), do séc. V, atualmente no Museu Britânico de Londres; e o do Monte Sinai (Codex Sinaiticus), do séc. IV, descoberto por Tischendorf no convento de Santa Catarina, no Monte Sinai, em 1844 e 1849, sendo que parte se encontra em Leipzig e parte em São Petersburgo. Todos foram escritos em unciais. O Codex Vaticanus é o mais puro dos três; é geralmente tido como o texto mais antigo, embora o Codex Alexandrinus carregue consigo o texto da Hexápla e tenha sido alterado segundo o texto massorético. O Codex Vaticanus é referido pela letra B; o Codex Alexandrinus, pela letra A; e o Codex Sinaiticus, pela primeira letra do alfabeto hebraico (aleph) ou S. A Biblioteca Nacional de Paris possui também um importante palimpsesto manuscrito da Septuaginta, o Codex Ephraemirescriptus (designado pela letra C) e dois manuscritos de menor valor (64 e 114), em cursivas, um pertencente ao séc. X ou XI e o outro, ao séc. XIII (Bacuez e Vigouroux, 12ª ed., nº 109). ” [5]

Editora: A. Ropger et F. C. – Paris

IRINEU DE LIÃO faz uma citação sobre a origem da Septuaginta:

Antes que os romanos estabelecessem o seu império, quando os macedônios mantinham ainda a Ásia em seu poder, Ptolomeu, filho de Lago, que havia fundado em Alexandria uma biblioteca, desejava enriquecê-la com os escritos de todos os homens, pediu aos judeus de Jerusalém uma tradução, em grego, das suas Escrituras. Eles, então, que ainda estavam submetidos aos macedônios, enviaram a Ptolomeu setenta anciãos, os mais competentes nas Escrituras e no conhecimento das duas línguas, para executar o trabalho que desejava. Ele, para os pôr à prova e mais, por medo de que concordassem entre si em falsear a verdade das Escrituras, na sua tradução, fê-los separar uns dos outros e mandou que todos traduzissem toda a Escritura; e fez assim com todos os livros. Quando se reuniram com Ptolomeu e confrontaram entre si as suas traduções, Deus foi glorificado e as Escrituras foram reconhecidas verdadeiramente divinas, porque todos, do início ao fim, exprimiram as mesmas coisas com as mesmas palavras, de forma que também os pagãos presentes reconheceram que as Escrituras foram traduzidas sob a inspiração de Deus.[6]

JUSTINO, O MÁRTIR testemunha a favor da Septuaginta:

1 Entre os judeus, houve profetas de Deus, através dos quais o Espírito profético anunciou antecipadamente os acontecimentos futuros, e os reis, que segundo os tempos se sucederam entre os judeus, apropriando-se de tais profecias, guardaram-nas cuidadosamente tal como foram ditas e tal como os próprios profetas as consignaram em seus livros, escritos em sua própria língua hebraica. 2 Quando Ptolomeu, rei do Egito, se preocupou em formar uma biblioteca e nela reunir os escritos de todo o mundo, tendo tido notícia dessas profecias, mandou uma embaixada a Herodes, que então era rei dos judeus, pedindo-lhe que mandasse os livros deles. 3 O rei Herodes mandou os livros, como dissemos, em sua língua hebraica. 4 Todavia, como seu conteúdo não podia ser entendido pelos egípcios, Ptolomeu pediu, por meio de uma nova embaixada, que Herodes enviasse homens para os verter para a língua grega. 5 Depois disso, os livros permaneceram entre os egípcios até o presente e os judeus os usam no mundo inteiro. Estes, porém, ao lê-los, não entendem o que está escrito, mas considerando-nos inimigos e adversários, matam-nos, como vós o fazeis, e atormentam-nos sempre que podem fazê-lo, como podeis facilmente verificar. 6 Com efeito, na guerra dos judeus agora terminada, Bar Kókeba, o cabeça da rebelião, mandava submeter a terríveis torturas somente os cristãos, caso estes não negassem e blasfemassem Jesus Cristo.[7]

 

EUSÉBIO DE CESAREIA ainda no quarto século depois de Cristo defendia a inspiração da Tradução LXX

 

Eusébio de Cesaréia, (263–340 d.C.), citando Irineu de Lião confirma que ainda em seu tempo eles criam que a Septuaginta, chamada de Tradução dos Setenta (LXX) era considerada inspirada[8] e continha provas escriturísticas sobre o nascimento do Messias:

E quanto à tradução das Escrituras inspiradas*[9] realizada pelos Setenta, ouve o que escreve textualmente:

“Deus pois fez-se homem, e o Senhor mesmo nos salvou, depois de dar-nos o sinal da Virgem, mas não como dizem alguns de agora que se atrevem a traduzir a Escritura: Eis aqui que a jovem conceberá em seu ventre e dará à luz um filho 352, como traduziram Teodósio, o de Éfeso, e Áquila, o do Ponto, ambos judeus prosélitos, aos que seguem os ebionitas quando dizem que Ele nasceu de José.”

Depois de um breve espaço, acrescenta ao dito:

“Efetivamente, antes que os romanos fizessem prevalecer seu governo e quando os macedônios ainda dominavam a Ásia, Ptolomeu, filho de Lagos, ambicionando adornar a biblioteca por ele organizada em Alexandria com as obras de todos os homens, ao menos as boas, pediu aos de Jerusalém para ter traduzidas em língua grega suas Escrituras.

Eles, que então ainda estavam submetidos aos macedônios, enviaram a Ptolomeu setenta anciãos, os mais versados dentre eles nas escrituras e em ambas as línguas. Deus fazia precisamente o que queria.

Ptolomeu, querendo testá-los separadamente e evitando que se pusessem de acordo para ocultar por meio da tradução o que há de verdade nas Escrituras, separou-os uns dos outros e ordenou que escrevessem a mesma tradução, e assim fez com todos os livros.

Mas logo que se reuniram junto a Ptolomeu e cada um comparou sua própria tradução, Deus foi glorificado e as Escrituras foram reconhecidas como verdadeiramente divinas: todos haviam proclamado as mesmas coisas com as mesmas expressões e os mesmos nomes, desde o começo até o fim, de forma que até os pagãos ali presentes reconheceram que as Escrituras foram traduzidas sob a inspiração de Deus.

15. E não há que estranhar que Deus fizesse isto, porque foi Ele que, havendo sido destruídas as Escrituras no cativeiro do povo sob Nabucodonosor e tendo os judeus regressado a seu país depois de setenta anos, logo, nos tempo de Artaxerxes, rei dos persas, inspirou o sacerdote Esdras, da tribo de Levi, a refazer todas as palavras dos profetas que o haviam precedido e restituir ao povo a legislação dada por meio de Moisés.”

Tudo isto diz Irineu.

A carta de ARISTEIAS

É a fonte primária e mais completa. Trata-se de uma obra pseudoepígrafa do judaísmo helenista, conhecida também como Aristeias (ou Aristeu) a Filócrates, de datação incerta entre 200 a.C e 80 d.C, mas a maioria dos críticos considera sua produção na metade do século II a.C……O autor conta que o rei do Egito, Ptolomeu IV, Filadelfo, cujo reinado foi entre 285 e 247 a.C., patrocinou a tradução das Escrituras dos judeus para a língua grega. O rei comissionou o bibliotecário Demétrio de Falero para reunir na Biblioteca de Alexandria a tradução de todos os livros do mundo. Aristeias assistiu à entrevista entre o rei e o bibliotecário, ocasião em que fica comprovado o interesse pela tradução da lei dos judeus. O monarca enviou uma carta para o sumo sacerdote Eleazar, em Jerusalém, solicitando uma cópia do texto hebraico e tradutores para a realização da obra. Enviou, ainda, presentes para o Templo e a notícia de que 120 mil judeus prisioneiros foram libertos por Ptolomeu. O próprio Aristeias fez parte da comitiva enviada à Cidade Santa. O sumo sacerdote retribuiu enviando uma carta e presentes ao rei. Enviou, ainda, uma comissão de tradução formada por 72 piedosos eruditos judeus, seis de cada tribo dos filhos de Israel, cujos nomes são listados na Carta (§ 45-51), que foram recebidos com festa pelo rei em Alexandria. O relato da Carta afirma que esses 72 levaram 72 dias para concluir a tradução do hebraico para o grego. Terminado o trabalho, Demétrio leu o texto em voz alta para a comunidade judaica, que acolheu com aclamação unânime, proferindo palavra de maldição para quem acrescentasse algo ao texto ou tirasse dele alguma palavra.

[10]

A influência da Septuaginta na História da Igreja:

Agostinho e os demais usaram a revisão neotestamentária de Jerônimo, embora insistissem com ele para que fizesse a tradução do Antigo Testamento tomando como base a LXX, que se julgava inspirada.[11]

Uma comparação do período entre a Septuaginta e a Vulgata.

Septuaginta (LXX)

Agora observe que o Texto Massotérico é ainda posterior à Vulgata.

Septuaginta (LXX)

Até o século II depois de Cristo, é sabido por meio dos chamados Pais da Igreja, que utilizava-se o antigo testamento a Septuaginta (LXX).  Foi após a destruição de Jerusalém ocorrida em 70 d.C. que o sínodo formado por judeus fariseus entre o século I e II na antiga cidade de Jamnia (atual Yavne) localizada na costa sudoeste da Palestina formaram o que ficou conhecido como o Concílio de Jâmnia, que rejeitou vários livros e demais escritos tradicionais, considerando-os como apócrifos. Vale lembrar que esse Concílio também desconsiderava os escritos do Novo Testamento. Houve muitos debates acerca da aprovação de vários livros. Assim, surgiu o Antigo Testamento com 39 livros (adotado posteriormente na Reforma Protestante por volta de 1517) que exclui os outros 7 “Deuterocanônicos”

Os rabinos fariseus utilizaram-se de quatro critérios para que os livros fossem considerados inspirados. São eles:

  • Ser escrito em Hebraico;
  • Ser escrito dentro da Palestina;
  • Ter sido escrito até a volta do Exílio da Babilônia;
  • Estar de acordo com o Pentateuco.

Muitos usam esse Concílio judaico para afirmar que houve um período de 400 anos de silêncio embora não há nem mesmo uma só profecia citando tal período. Além do mais, todos os comentaristas se apropriam de I Macabeus a fim de explicar sobre pontos na profecia de Daniel. Para se considerar o Concílio de Jamnia como legítimo, seria preciso declarar que os rabinos fariseus foram inspirados pelo Espírito Santo mesmo rejeitando o Messias. Afinal, ao inserir tais critérios, definitivamente os escritos do Novo Testamento – escritos em grego – seriam desqualificados.

A tese de que o trabalho desse Concílio foi apenas ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através dos séculos é rejeitada pela maioria dos críticos e vai contra o testemunho dos Pais da Igreja[1].

Alguns afirmam que todos os livros do AT foram reunidos e reconhecidos sob a liderança de Esdras, séc 5 a.C.

Já nos dias de Jesus, o antigo testamento conhecido até então como “as Escrituras”, era ensinado regularmente e lido publicamente nas Sinagogas. Era considerada entre o povo como “Palavra de Deus” uma vez que ainda não havia novo testamento escrito, pois sua história estava em curso. Jesus as reconhecia como também as utilizava em suas pregações.A lista dos livros do A.T. chamados de Cânon Palestino tem sido universalmente aceito pela igreja protestante. Muitas Escrituras do N.T. provam que o Cânon do A.T., foi aceito nos dias de Cristo e dos apóstolos (Mt 21.42; 22.29; 23.33; Lc 11.51; 24.27-32,44; Jo 5.39; 10.35; 2Tm 3.15-17).

Bibliografia

??[1] IRENEU DE LIÃO, Contra as Heresias, Paulus, São Paulo, 1995. Pág. 195.

[2] Septuaginta: (Guia histórico e literário) / Esequias Soares, São Paulo: Hagnos, 2009, pág. 15,16.

[3] JOSEFO, Flávio, História dos Hebreus, Rio de Janeiro, CPAD, 1990. Livro Décimo Segundo, Capítulo 2, Pág. 538 a 548.

[4] LIMA, Alessandro Ricardo (2007). O Cânon Bíblico – A Origem da Lista dos Livros Sagrados, 1ª ed. Brasília: [s.n.] p. 22. 125.

[5] M.M. BACUEZ e Vigouroux, Manuel Biblique Ou Cours Décriture Sainte, Paris, Éditeur: A Ropger et F C Paris, 1901. 

[6] IRENEU DE LIÃO, Contra as Heresias, São Paulo, Paulus, 1995. Pág. 195.

[7] JUSTINO MÁRTIR – I Apologia, São Paulo, Paulus, 1995.  pág 25

[8] EUSÉBIO de Cesaréia. História Eclesiástica, São Paulo, Novo Século, 2002, pág. 108,109

[9] * Obs.: a expressão Escrituras “inspiradas” é omitida na edição em português pela CPAD, pág. 175

[10] Septuaginta: (Guia histórico e literário) / Esequias Soares, São Paulo: Hagnos, 2009, pág. 15,16.

[11] GEISLER, Norman / e William Nix. Introdução bíblica – Como a Bíblia chegou até nós, São Paulo, Vida, 2006, pág. 224

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Escrito por
Pr. Felipe Morais
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