Afinal, quem foi a mulher cuxita que Moisés se casou? Seria uma princesa etíope? Uma rainha da Etiópia? O que a Bíblia fala sobre isso?
Antes de mais nada, vamos mostrar onde está o texto bíblico:
Miriã e Arão falaram contra Moisés, por causa da mulher cuxita que este havia tomado; pois ele tinha tomado uma mulher cuxita. – Números 12:1
Vamos expor as análises acerca da mulher cuxita (ou “mulher cusita” em algumas traduções), tanto na tradição hebraica como nas Escrituras.
Não uma mulher etíope, mas a própria Zípora!
Há ainda uma teoria, apoiada por Rashi[1] e Ibn Ezra, entre outros exegetas judaicos, que parecem não admitir a ideia de Moisés ter arrumado uma esposa etíope.
Eles alegam que a mulher “cuxita” se trate de Zípora, filha de Jetro, cuja beleza era reconhecida por todos, do mesmo modo que contrasta com a negritude de uma etíope[2]. E, para negar essa possibilidade de Moisés ter possuído uma mulher etíope, fazem cálculos baseados na Guemátria, buscando um valor numérico equivalente entre as palavras “vistosa” (ou “reconhecida beleza”) e “cushita” [cushit, cuja tradução literal é etíope].
De acordo com Rashi, o termo cushita (ou cuxita) foi repetido, para ressaltar que sua beleza física era tão grande quanto as qualidades de seu caráter[3].
Rashi[4] ainda vai dizer que: Ela foi chamada de “etíope” por conta de sua beleza, assim como um homem chamaria seu filho bonito de “etíope” para evitar que recaia sobre ele o mau-olhado.
Em contrapartida, Kent Dobson (2019, p. 196) sugere que “talvez eles estivessem chateados que Moisés tivesse se casado com uma estrangeira de uma região geográfica completamente diferente. É possível que, em um momento de justiça poética, a punição de Míriam de ter uma pele branca como a neve (veja v. 10) fosse para contrastar com a pele negra da mulher de Moisés.”
Cuxe é a Etiópia ou seria Midiã?
Alguns comentaristas, preferem associar o adjetivo “cuxita” a alguma tribo do noroeste da Arábia, vizinha ou talvez idêntica à Midiã (país de origem de Zípora). Buscando um suposto paralelo entre os termos em Habacuque 3:7, sugerem que Cuxe deveria ser uma designação arcaica de Midiã.
Porém, fica claro no próprio texto que se trata de nações distintas, pois se for aplicado o mesmo método de interpretação a vários textos similares; por exemplo em Isaías 7:18, deveríamos concluir que o termo Egito seria apenas uma designação arcaica de Assíria. É evidente que tal afirmação não é coerente!
Dessa forma e sem base sólida, sustentam que a mulher etíope deveria ser a própria Zípora.
Por que implicar com a mulher cuxita?
Entretanto, surge então uma pergunta: Qual podia ser o motivo das reprovações que Miriã e Arão fazia a seu irmão a esse respeito? De acordo com Rashi, “era o fato de Moisés abandonar a esposa: absorvido por suas tarefas de profeta, ele teria negligenciado o lar. […] A opinião de Rashi foi vivamente criticada desde a Idade Média por numerosos comentadores.” (CHOURAQUI, 1997, p. 126)
Outra teoria na tradição judaica sobre a mulher cuxita: Uma Rainha Etíope!
Outros exegetas judeus, “dizem que esta mulher era uma das rainhas da Abissínia [Etiópia], que Moisés tinha tomado como mulher durante sua estadia de quarenta anos naquele país.” (TORÁ, 2017, p. 422, grifo nosso)
O que Josefo falou sobre isso? Uma Princesa Etíope!
De acordo com o historiador Flávio Josefo (1990, p. 141), os etíopes fizeram uma investida militar contra o Egito e obtiveram importante vitória.
Os egípcios reconheceram-se muito fracos para resistir a tão grande força e receberam uma mensagem que havia apenas um homem – um hebreu – capaz de salvar o Egito nessa guerra. “O rei não teve dificuldade em julgar, por essas palavras, que Moisés era o hebreu em questão, ao qual o céu destinava salvar o Egito, e pediu à filha para fazê-lo general de todo o exército.”
Moisés então, como um “ilustre general” do Egito, impeliu os etíopes até Sabá, capital da Etiópia. Sendo reconhecido por seu ato de bravura, por “Tarlis, filha do rei da Etiópia”, que “mandou oferecer-lhe a mão em casamento.
Ele aceitou a honra, com a condição de que ela lhe entregasse a cidade. A promessa foi confirmada com um juramento e, depois que o tratado foi feito, em boa fé de parte a parte, ele deu graças a Deus por tantos favores e reconduziu os egípcios vitoriosos de volta à sua pátria.” (JOSEFO, 1990, p. 142).
Esta princesa, portanto, teria permanecido no Egito durante a fuga de Moisés para Midiã (onde Moisés conheceu e se casou com Zípora), depois teria voltado à vida conjugal como segunda mulher, ao lado de Zípora, por ocasião do Êxodo.
A mulher cuxita na Bíblia – Até onde a Escritura fala sobre isso?
As Sagradas Escrituras não se preocupam em explicar os detalhes acerca dessa mulher e, muito menos, em qual momento Moisés a conheceu levando-a ao deserto. Até porque, isso não tem a menor importância para explicar o evento.
A palavra cuxita (כושׂית Kûshiyth) provém do termo hebraico כושׂ Kûsh, que de acordo com o Dicionário Strong, significa Cuxe ou Etiópia ou etíopes = “negro”. (Strong)
De forma simples (como está escrito), basta dizer que Moisés havia tomado uma mulher etíope.
Na Bíblia, Cuxe é o primogênito de Cam, sendo um importante neto de Noé: “Os filhos de Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.” Gênesis 10:6
Por que não eu?
E disseram: — Será que o Senhor falou somente por meio de Moisés? Será que não falou também por meio de nós? E o Senhor ouviu o que eles disseram. – Números 12:2
Arão, o porta-voz oficial de Moisés (Êx 7:1,2) e sumo sacerdote era um profeta. Miriã também era uma profetisa. “A profetisa Miriã, irmã de Arão, pegou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças. E Miriã lhes respondia: Cantem ao Senhor , porque triunfou gloriosamente e lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro.” (Êxodo 15:20,21).
Ambos deixaram-se levar pela ideia errônea de que, por serem usados por Deus deveriam assumir o posto de Moisés. Podemos observar que o problema aqui não tinha relação com a mulher cuxita. Ela foi usada apenas como um pretexto para atacar seu relacionamento especial com Deus e seu ministério profético. O problema real não era a esposa, e sim que eles manifestaram ter inveja (Moisés se acha o preferido?) e orgulho (também somos usado por Deus!).
Ainda hoje, muitos obreiros não percebem, mas suas esposas são alvo constante dos ataques do inimigo, pois sabe que elas são os vasos mais frágeis (1 Pedro 3:7) e, portanto, arma planos constantes com a finalidade de destruir o casamento e o ministério dos maridos!
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Deus te abençoe!
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Bibliografia
CHOURAQUI, A. A Bíblia – No Deserto (Números). Tradução de Paulo Neves. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1997.
DOBSON, K. Ensinamentos da Torá: conciliando a história judaica com a fé cristã / com notas de Kent Dobson. Tradução de Maurício Bezerra Santos Silva. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.
JOSEFO, F. História dos Hebreus. Tradução de Vicente Pedroso. Rio de Janeiro: CPAD, 1990.
RASHI. Torá-Rashi: Sefer Bamidbar-Números: com comentários de Rashi. Tradução de Yaacov Nurkin; Haftarot traduzidas e Targum Onkelos. São Paulo: Maayanot, 2018. (Coleção Torá Rashi; v.4).
TORÁ. A Lei de Moisés. São Paulo: Sêfer, 2017.
[1] Rashi, comentarista judeu que viveu na França, em Troyes, Champagne, no século XI
[2] (RASHI, 2018, p. 125)
[3] (TORÁ, 2017, p. 422)
[4] (RASHI, 2018, p. 125)
Gostei da explicação, apesar de já ter lido coisa diferente, como o fato de a rebeldia se dar também por não aceitação da cor da mulher. Parabéns ao pastor pelo texto tão claro e útil.
gostei do estudo mui bom
Glória a Deus pela sua vida e família que o Espírito Santo, esteja todos os dias sobre ti em nome de Jesus Cristo. Gostei muito do estudo das explicações grato por tudo seja usado para o crescimento do Reino de Jesus Cristo,muitas almas sejam abençoados e tenham crescimento de qualidade 🙏🙏🙏. muito obrigado pela informação.
Gostei