Para onde vão as almas dos justos quando morrem? (Texto base: Lucas 16:19-31)
✦ Escrito por: Angelo Moura de Souza Junior
*Publicado com autorização do autor que é um Inscrito no Canal CURSO BÍBLICO ONLINE no YouTube
Introdução
O texto bíblico que será utilizado como base para esse estudo, traz algumas discordâncias no meio teológico atual. Pois, alguns defendem que se trata apenas de uma parábola, e outros entendem que o Senhor Jesus fez uma citação de um evento real para mostrar aos Seus discípulos o que ocorre após a morte, tanto de um justo, quanto a de um injusto.
Antes de começar a responder a pergunta proposta nesse estudo, entendo ser necessário a compreensão das palavras utilizadas nos textos originais, e que foram traduzidas para o nosso idioma como inferno.
Mas ao ser analisado o contexto na qual ela está inserida, e buscando em um dicionário o significado das palavras usada nos textos originais, fica evidente que se trata de ambientes distintos, e que o uso genérico da palavra inferno nas traduções em português, leva a um entendimento errôneo, uma vez que dentro de alguns contextos, se refere ao mundo dos mortos (justos e/ou injustos).
A palavra traduzida por “inferno” em português, provém do latim “infernum“, que significa simplesmente o “mundo inferior“. Sem nenhuma relação com lago de fogo descrito em (Apocalipse 19:20; 20:10,14,15).
Nos textos originais
Nos textos em hebraico utiliza-se a palavra Sheol, para se referir ao mundo dos mortos, e no antigo testamento ela aparece 63 vezes, porém é traduzida para o nosso idioma como, inferno, sepultura, morte, abismo, e além, seguem alguns textos para consulta: (Gênesis 37:34-35, Jó 21:11-13, Salmos 9:17, Jó 17:16, Salmos 16:10, Números 16:30, Jó 26:6, Isaías 14:15).
Já no texto grego, a palavra usa é Hades, essa aparece 11 vezes no novo testamento, e é traduzida como inferno, morte, e além, seguem alguns textos para consulta: (Mateus 11:23, Lucas 16:23, Atos 2:26-27, Apocalipse 1:18; 6:8 e 20:13-14).
Geenna
Quando os textos originais se referem ao lugar de condenação eterna, a segunda morte citada em Apocalipse 20:14, verifica-se através de uma análise nos textos e seu contexto, que esse lugar é nomeado como Geenna (palavra de origem hebraica), que também é traduzida para o nosso idioma como inferno.
O Geenna, faz alusão ao vale do Hinom, ao sul de Jerusalém, onde o lixo e os animais mortos da cidade eram jogados e queimados, também era o local onde se ofereciam sacrifícios a Moloque (2Reis 23:10, Jeremias 32:35). Nos evangelhos, quando o Senhor Jesus se refere a condenação eterna, a palavra usada no texto original grego é Geenna, e essa aparece 12 vezes em toda a bíblia, e também é traduzida para o português como inferno, seguem alguns textos para consulta: (Mateus 5:22,29,30; 23:33, Marcos 9:43, Tiago 3:6).
Tártaro
Mas ainda falando do uso da palavra inferno nas traduções dos textos originais para o português, existe uma outra palavra do grego que é citada apenas uma única vez, chamada de Tártaro, e se refere a um lugar localizado nas regiões mais profundas e tenebrosas do abismo.
Nesse caso, entende-se pelo contexto que esse abismo se refere ao citado em Lucas 16:26, e o lugar onde estão aprisionados alguns dos anjos que se rebelarão contra Deus, seguem alguns textos para consulta: (2 Pedro 2:4, Judas 1:6).
Como pôde ser observado, a palavra inferno, dentro de alguns contextos, não se refere apenas a um lugar de tormento eterno, e nem é, como muitos pensam, a morada de Satanás e de seus demônios, onde se reúnem para realizar seus projetos de maldade contra a igreja de Cristo.
“... Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite...” Lucas 16:16-31 (ACF)
Meus comentários
Inicialmente quero deixar claro que Lázaro foi para o lugar de consolo, onde já se encontram outros salvos, não porque era um mendigo e vivia em uma condição de miséria, e nem o homem rico foi condenado, por ser ele muito rico e por viver de forma esplendorosa, como alguns pensam. Lázaro foi salvo porque mesmo vivendo em condições miseráveis e carregando em seu corpo suas enfermidades, se manteve obediente aos mandamentos de Deus, e por isso foi justificado de seus pecados, já o homem rico, por se apoiar em suas riquezas, considerando-as como o seu deus, não se preocupou em viver uma vida piedosa, guardando os mandamentos de Deus, e por essa razão não alcançou a justificação pelos seus pecados, e foi levado a um lugar de tormento.
Quando se lê o texto citado, entende-se que após a morte, as almas de ambos, foram levadas para um mesmo ambiente denominado inferno, que no texto original se refere ao Hades (mundo dos mortos), esse entendimento está baseado no fato de que, o homem rico, do lugar de tormento, pôde visualizar a Lázaro no seio (que se refere a proximidade) de Abraão, no lugar de consolo,
“…E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio…” Lucas 16:23 (ACF)
Porém, separados por meio de um abismo, que impossibilita a migração dos que estão no lugar de tormento para o lugar de consolo, e vice-versa.
“…E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá…” Lucas 16:26 (ACF)
Mas onde está localizado o Hades, o mundo dos mortos, o receptáculo das almas? Entendo que esse, está localizado no coração da terra, e por que entendo dessa forma?
O Senhor Jesus, quando os escribas e fariseus pediram um sinal, Ele disse:
“…. Uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas. Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra…” Mateus 12:39,40 (ARA)
A citação feita pelo Senhor Jesus, foi retirada do livro do profeta Jonas, e para um melhor entendimento, será analisado o texto onde está registrado esse evento ocorrido com o profeta.
“… Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe…” Jonas 1:17 (ACF)
Continuando diz:
“... E orou Jonas ao SENHOR, seu Deus, das entranhas do peixe. E disse: Na minha angústia clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do inferno gritei, e tu ouviste a minha voz...” Jonas 2:1,2 (ACF)
Diz ainda:
“… Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca…” Jonas 2:10 (ACF)
Analisando os textos citados, entendo que o grande peixe levou Jonas ao lugar mais profundo da terra, mas não para o lugar de tormento, e quando ele diz “…e ele me respondeu; do ventre do inferno…”, a palavra inferno, no original é Sheol, que como já foi explicado, se refere ao mundo dos mortos, e a ida de Jonas ao Sheol, ou Hades, e o ter sido tirado de lá por ordem de Deus, se conecta com o que foi dito por David, e posteriormente citado por Pedro.
Antigo Testamento (Hebraico)
“... Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo (Cristo) veja corrupção...” Salmos 16:10 (ACF)
Novo Testamento (Grego)
“... Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo (Cristo) veja a corrupção; ...” Atos 2:27 (ACF)
Embora as duas citações se refiram a Cristo, vale notar que no Antigo Testamento, a palavra inferno em destaque, se refere ao Sheol, e no Novo Testamento, se refere ao Hades, logo, fica evidente que Cristo ao morrer na cruz, foi para o mundo dos mortos, mas não para o lugar de tormento, onde se encontra o homem rico citado no texto de Lucas, mas para o lugar onde estão os justos, como Lázaro e Abraão, pois, embora Cristo tenha levado sobre si, todo pecado e maldição do mundo (Isaías 53; 2Pedro 3:18), Ele próprio não pecou, e como Ele é as primícias da ressurreição dos salvos, que terão seus corpos transformados e glorificados, e foi retirado por Deus do coração da terra, assim como o profeta Jonas foi retirado do ventre do abismo.
Existem alguns textos bíblicos que são usados por alguns teólogos, para defender a ideia de que as almas dos justos estão no céu de Deus, o paraíso de Deus, aguardando a vinda de Cristo, e com isso entendem que o Hades (Sheol), o inferno é o lugar de tormento. Na sequência, citarei três argumentações usada por eles, e farei comentários sobre os mesmos, de acordo com o que eu entendo a respeito de cada texto.
Primeira argumentação
Um dos textos mais utilizados para defender o pensamento de que as almas dos salvos que morreram estão no Céu com Deus, o paraíso, está no evangelho de Lucas, que relata o momento em que Cristo está na cruz e um dos ladrões lhe faz o seguinte pedido:
“... E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso...” Lucas 23:42,43 (ARA)
Analisando essa primeira argumentação, devemos nos atentar à alguns detalhes, por exemplo: quando o ladrão na cruz faz aquele pedido, certamente ele tinha conhecimento a respeito dos ensinamentos de Cristo, e sabia a respeito da Sua vinda, da ressurreição e reestabelecimento do Seu reino aqui na terra, e por isso disse “… lembra-te de mim quando vieres no teu reino…”, veja que o verbo está no futuro e não naquele momento presente. Algumas versões bíblicas, o verbo “vir” é substituído por “entrares”, porém, a palavra “vieres”, empregada na citação, está mais coerente com a palavra “έρχομαι – érchomai”, usada no texto original grego.
Outra observação relevante, é que no texto original não existe o pronome “QUE”, e nem há pontuação na frase em que Cristo diz “… Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso…”, o que dificulta a vida do tradutor, e a inserção desse pronome para dar um sentido no nosso idioma, acaba de certa forma, levando a um entendimento errôneo, pois, como o Senhor Jesus poderia prometer ao ladrão que ele estaria no paraíso de Deus, no Céu, com Cristo, se Ele havia dito que estaria no coração da terra por três dias e três noites (Mateus 12:39-40)? E após a Sua ressurreição disse a Maria:
“…Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai …” João 20:17 (ARA)
Nessa citação do evangelho de João, fica também evidente que a promessa de Cristo, não se tratava do tempo presente, mas sim, do tempo futuro, e está diretamente ligado à Sua vinda.
Continuando a análise no texto de Lucas 23:42-43, irei comentar sobre o paraíso citado por Cristo.
É verdade que todos os justos irão ter acesso a esse lugar, contudo os textos bíblicos não dar base para entendermos que ele se refere ao lugar para onde vão as almas dos justos, imediatamente após sua morte física, e ali ficam aguardando a segunda vinda de Cristo.
Realizando uma pesquisa na bíblia, verifica-se que a palavra “paraíso”, aparece apenas três vezes (sendo que uma já foi citada), e nas três citações, a palavra usada no texto original é mesma, “parádeisos”, e essa faz referência ao Jardim do Éden, e esse não está situado no coração da terra, logo, não é coerente considerarmos que o mendigo Lázaro, Abraão e os demais justos que estão mortos ou que ainda irão morrer, estejam ou sejam levados, para o paraíso de Deus, o Céu.
Seguem os textos em que essa palavra é usada.
“... Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir...” 2 Coríntios 12:2-4 (ARA)
o apóstolo Paulo, fala de um homem (tudo indica que estava falando si mesmo) que foi ao terceiro Céu, ao paraíso, logo entendo que esse lugar do qual o apóstolo se refere, está localizado no Céu de Deus. Na próxima citação poderemos nos aprofundar um pouco mais na construção desse entendimento, pois assim está escrito:
“... Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus...”
Apocalipse 2:7 (ARA)
A citação acima nos traz algumas revelações importantes a respeito do paraíso de Deus e de sua localização, uma delas é que, no paraíso se encontra a árvore da vida, e é a mesma mencionada no Jardim do Éden (Gênesis 2:9). Isso nos remete para o início da criação, lugar onde Deus desejou que Sua criatura vivesse.
O fruto dessa árvore servirá de alimento para os vencedores, e quem são esses?
Os vencedores são todos aqueles que mantiveram sua fé e foram lavados e remidos no sangue de Cristo, que abandonaram a prática do pecado e resistiram as tentações e investidas do diabo até o seu último suspiro de vida nesse corpo mortal.
Mas alguém poderá dizer: “Sendo assim, todos os justos que já morreram são vencedores, e por isso já comeram desse fruto da árvore da vida. Consequentemente já se encontram no paraíso de Deus aguardando a vinda de Cristo?”
Entendo que não; pois foi mostrado ao apostolo João, a cidade santa, a nova Jerusalém, que desceu do céu e se estabeleceu na terra. E nela está o paraíso de Deus, e tudo leva a crer, que o Jardim do Éden, do qual o homem foi expulso devido a sua transgressão, foi reestabelecido e está dentro da nova Jerusalém.
E disse João:
“... e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro...” Apocalipse 21:10,27 (ARA)
João ainda diz:
“... Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras [no sangue do Cordeiro], para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas...” Apocalipse 22:14 (ARA)
os textos citados estão no contexto do período milenar, que se inicia logo após a segunda vinda de Cristo, onde os justos, a igreja, a noiva, receberão corpos glorificados e serão vestidos com vestiduras brancas (1Co 15:40-58; Ap 19:8,14), a esses será permitido entrar no paraíso de Deus, que está dentro da cidade santa, a nova Jerusalém, e está estará na terra, pois o reino de Cristo será reestabelecido aqui na terra, sendo assim, entendo que afirmar que a almas dos salvos, é levada para o paraíso de Deus, o Céu, imediatamente após a sua morte, não está em acordo com os contextos bíblicos. Ainda fazendo mais uma análise ao texto de Lucas citado a cima, e comparando o texto original em grego, com o texto traduzido para o português, podemos ter uma melhor compreensão a respeito do que Cristo estava prometendo ao ladrão na cruz. Assim está escrito:
Como se pode notar, não há pontuação no texto original, mas entendo que dentro do contexto já apresentado, seria mais coerente, caso se opta-se por inserir uma pontuação para dar um melhor sentido ao texto, traduzi-lo para o nosso idioma, inserindo uma vírgula após a palavra “hoje”, como segue abaixo:
“… Em verdade te digo hoje, estarás comigo no paraíso…”
ou seja, hoje (tempo presente), eu Te digo que estarás comigo no paraíso (tempo futuro), apontando para o tempo em que os salvos poderão entrar no paraíso de Deus, e reinar com Cristo no período milenar.
Segunda argumentação
Outro texto que também usado para afirmar que quando morrem os justos, as suas almas são levadas para o Céu, o paraíso de Deus, está no evangelho de João, onde Cristo diz aos Seus discípulos,
“… Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também…”
João 14:2,3 (ARA)
e pelo fato de o texto fazer referência a existência de muitas “moradas” na casa de Deus, e a promessa de Cristo em dizer “…vou preparar-vos lugar…”, em um primeiro momento levar ao leitor entender que Cristo quando ressuscitou e foi elevado ao Céu, iria preparar um lugar muito similar à habitação que temos aqui na terra, porém, construída no Céu, no paraíso de Deus. Mas se continuarmos na leitura do mesmo versículo, Ele diz que após preparar lugar, voltaria, o que nos remete a Sua vinda em glória, tempo futuro, e receberia os Seus discípulos (apontando aqui para a igreja como um todo, a noiva) nEle, referindo-se ao encontro com Cristo nas nuvens, com o advento do arrebatamento dos escolhidos (1TS 4:15-17).
Para uma melhor elucidação, fiz uma pesquisa no texto original grego, e a palavra usada para se referir a morada é “μονή (monḗ)”, que significa:
- lugar, morada, habitação, residência;
- fazer habitação;
- metáf. do Deus Espírito Santo que habita nos crentes.
Essa palavra aparece apenas duas vezes na bíblia, e irei apresentar os dois textos, tanto no original grego quanto em nosso idioma, como segue abaixo:
João 14:2 (ARA) - “... Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar...”
João 14:23 (ARA) - “... Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada...”
Como o texto em João 14:2, foi analisado anteriormente, irei analisar a segunda ocorrência do uso da palavra “morada”. Inicialmente verifica-se que essa palavra está dentro de um mesmo contexto. Cristo deixa claro que essa morada, se refere ao corpo daqueles que O ama, pois a esses, ele diz “…e meu Pai o amará , e viremos para ele e faremos nele morada…”. Então podemos construir o pensamento de que as muitas moradas citadas em João 14:2, apontam para os justos, e o apóstolo Paulo corrobora com essa afirmação quando declara a igreja de Corintos que o corpo é o templo do Espírito Santo, habitação de Deus,
“… Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?…” 1 Coríntios 6:19 (ACF)
E seguindo nesse raciocínio, a que casa se referiu o Senhor Jesus quando disse “…na casa de meu Pai…”?
Para responder a essa pergunta, será necessário analisar alguns textos que serão apresentados abaixo, e assim tentarei construir uma interpretação para essa citação de Cristo.
No período da Lei de Moisés, a casa de Deus, ou casa do Pai, era associada ao templo. Era o lugar onde o povo de Deus fazia ali seus sacrifícios, orações, e dedicavam culto a Deus,
“…Consultávamos juntos suavemente, e andávamos em companhia na casa de Deus…” Salmos 55:14
“…Deixai que se faça a obra desta casa de Deus; que o governador dos judeus e os seus anciãos reedifiquem esta casa de Deus no seu lugar…” Esdras 6:7
Já no novo testamento, partindo dos ensinamentos do Senhor Jesus, a casa de Deus, aponta para a Igreja. Pois ela é o Corpo de Cristo do qual todos os que se convertem a Cristo, se tornam membros (1Co 6:15).
“…E tendo um grande sacerdote (Cristo) sobre a casa de Deus, …” Hebreus 10:21
“… Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo (os salvos, o corpo de Cristo), a coluna e firmeza da verdade…” 1 Timóteo 3:15
“…Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós (os salvos, o corpo de Cristo), qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus?…” 1 Pedro 4:17
Até aqui, os textos citados apontam para a casa de Deus, a casa do meu Pai, a Igreja o corpo de Cristo, e esse entendimento fica mais evidente nos próximos textos, que diz:
“…E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e pombos, e os cambiadores assentados. E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; e disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda…” João 2:14-16
“…Jesus respondeu, e disse-lhes: Derribai este templo, e em três dias o levantarei. Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este templo, e tu o levantarás em três dias? Mas ele falava do templo do seu corpo…” João 2:19-21
Analisando João 2:14-16, o Senhor chama o templo de Casa de meu Pai, e em João 2:19-21, Ele, falando do templo, refere-se ao Seu Corpo, e esse é constituído por muitos membros, apontando para os que vivem na prática da justiça, sendo esses as muitas moradas da casa de Deus.
Diante dos textos apresentados, entendo que essa segunda argumentação, não sustenta, dentro de um contexto, que as moradas a serem preparadas na citação de Cristo, são habitações no céu para as almas dos justos, imediatamente após sua morte, e lá permanecem aguardando a segunda vinda do Salvador.
Irei ainda apresentar mais uma das argumentações utilizadas para afirmar que as almas dos justos que morrem, estão no céu de Deus, no paraíso de Deus.
Terceira argumentação
O texto a ser analisado, está no livro do apocalipse, e nessa citação João tem uma visão de alguns dos santos que foram martirizados, e esses estão clamando por justiça, de modo muito semelhante ao relato no livro de Gênesis sobre o assassinato de Abel (Gênesis 4:10). O texto que irei analisar diz:
“… E, havendo aberto o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus e por amor do testemunho que deram. E clamavam com grande voz, dizendo: Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram…” Apocalipse 6:9-11
Quando esse texto é lido por aqueles que defendem a ideia de que os justos quando morrem, suas almas são levadas para o céu de Deus ou paraíso de Deus, entendem que esse altar mencionado no texto, está localizado no céu de Deus, diante do trono do Altíssimo, pois associam esse altar, com o altar de ouro, onde Cristo põe o incenso (apontando para a oração dos santos), citado no capitulo 8 de apocalipse.
“… E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono…” Apocalipse 8:3
Como os textos citados trata dos utensílios usados no Tabernáculo, então devemos buscar entender o que representava cada um deles e em qual parte do Tabernáculo eles estão situados, mas não é o propósito desse estudo explorar com profundidade sobre o Tabernáculo, outro ponto a ser observado quando olhamos para o Tabernáculo, é que esse, aponta para Cristo.
O Tabernáculo era dividido em três ambientes, o Átrio ou Pátio, o Santo Lugar e o Santos dos Santos.
Na figura abaixo, está apresentado o Tabernáculo que Deus orientou a Moisés a construir, segundo o modelo que o Senhor lhe mostrou.
Essa parte externa a Tenda, e que está delimitada por cortinas brancas, é o Átrio, e nesse local fica o Altar do Holocausto, também chamado de Altar de cobre (ou bronze, em algumas versões bíblicas), nesse altar, eram oferecidos os sacrifícios de animais, e ali eram queimados, e o sangue dos mesmos eram derramados ao seu redor (Levítico 1), no Átrio se realizavam as matanças, porém no interior da Tenda, onde se encontravam o Santo Lugar, e esse, só poderia ser acessado pelos sacerdotes, ficava um outro altar, o Altar do Incenso, também chamado de Altar de ouro, esse estava diante do véu, que está diante da arca do testemunho, no Santo dos Santos, que só poderia ser adentrado uma vez por ano, apenas pelo sumo sacerdote, para fazer expiação dos pecados da nação de Israel, e ali ficava a arca da aliança, que representava o trono de Deus. Agora que foi apresentado de forma breve o Tabernáculo, será analisado os textos de apocalipse 6:9-11 e 8:3.
No início do capítulo 8 de apocalipse, o apóstolo João ver sete anjos, e esses receberam sete trombetas da parte de Deus, e viu outro anjo, que se colocou junto ao altar, onde queimou o incenso junto com as orações, esse altar é o Altar de Ouro, e como esse serviço só era realizado pele sumo sacerdote, nos leva a entender que o anjo ali citado, refere-se ao Senhor Jesus, pois o autor de Hebreus diz:
“… Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da majestade, Ministro do santuário, e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem…” Hebreus 8:1,2
E seguindo nesse entendimento, podemos entender que os dois ambientes, que ficavam dentro da Tenda, antes eram separados por um véu, mas que esse foi rasgado (Mateus 27:51) e o Santo Lugar e Santos dos Santos, e nesse ambiente não se fazia matança, pois representa um lugar santo.
Mas, quando meditamos no texto de Apocalipse 6:9-11, fazendo um paralelo com as divisões do Tabernáculo, podemos entender que a terra onde vivemos, e onde o Senhor Jesus Cristo foi morto, se refere ao Átrio, pois era nesse ambiente que se localizava o Altar do Holocausto, no qual se queimava o animal morto para expiação do pecado, e Cristo é o Cordeiro que foi morto para expiação do pecado.
Sendo assim, concluo que o altar citado no capítulo 6 de Apocalipse, não se refere ao altar citado no capitulo 8, desse mesmo livro. E uma vez que se compreende que as almas estão debaixo do Altar do Holocausto, me leva a entender que essas, estão abaixo da terra nas regiões inferiores, no mundo dos mortos, no Hades, no lugar de consolo, aguardando a vinda de Cristo, aguardando a justiça de Deus!
Pois assim está escrito:
“...E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram...” Apocalipse 6:11
Diante do que foi analisado, não considero coerente tomar como base o capitulo 6 de apocalipse para sustentar a ideia de que os justos, imediatamente após a sua morte, suas almas são levadas para o paraíso de Deus ou o Céu.
Pois, como foi mostrado, o altar onde se realizavam as matanças está na terra, apontando para o Átrio, e abaixo do Altar do Holocausto, está o mundo dos mortos, o Hades, e as almas daqueles que foram mortos por defenderem sua fé em Cristo, estão reivindicando justiça, e não estão em um estado de inconsciência como alguns defendem.
Considerações Finais
De acordo com o que foi exposto até aqui, eu compreendo que o relato do Senhor Jesus no texto de Lucas 16:19-31, é real, e creio com base nos textos bíblicos; não apenas os que foram citados, mas também outros não citados, que em uma análise contextualizada, nos leva ao entendimento que a alma é imortal, e quando essa se desprende desse corpo carnal, carrega nossas memórias.
Isso fica evidente, pois se assim não fora, como Abraão que já havia morrido, estaria conversando com o homem rico? Creio que tanto o lugar de tormento, quanto o lugar de consolo, estão no coração da terra separados por um abismo que leva ao Tártaro, e ao Geenna (o inferno propriamente dito).
Eu também discordo completamente da ideia de que o diabo e seus demônios têm livre acesso ao mundo dos mortos, e da ideia, de que são eles que ficam atormentando as almas dos pecadores, mas respeito quem pensa o contrário, ou entende os textos citados de outra forma.
Espero ter contribuído de alguma forma com a edificação dos que estão lendo esse estudo, e peço que o Senhor Jesus lhes dê discernimento e entendimento a respeito dos textos sagrados, e que sejam preparados (as) para receberem o Senhor Jesus em Sua vinda, para buscar os seus escolhidos, tanto os mortos quanto os que estiverem vivos na Sua vinda.
✓ * O conteúdo do texto acima é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do site Curso Bíblico Online.
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Obrigado pastor Felipe por essa oportunidade de contribuir de alguma forma, compartilhando com esse entendimento a luz da palavra de Deus. Que o Senhor continue te abençoando e lhe dando força e saúde. Forte abraço.
Gostaria que o PR Felipe ,fizesse um vídeo a respeito, pois comk ele é professor, ele tem uma maneira mais fácil, de explicar de forma que fique nas fácil, de compreender